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ARTIGO: FAMÍLIA, IGREJA DOMÉSTICA

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Neste tempo de quarentena, em que estamos impossibilitados de estar reunidos como assembléia litúrgica num templo sagrado chamado “igreja”, somos convidados a valorizar a nossa casa e família como a igreja doméstica.

A família como Igreja doméstica esta na base do novo Povo de Deus formado por Jesus Cristo. Do ponto de vista bíblico, a Igreja tem que ser vista como uma família: a família de Deus na terra. A família é a “Igreja em miniatura”, é a Igreja doméstica, o santuário da Vida. A história da família de fé começa com a história de Abraão, que foi obediente ao pedido de Deus: “Vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; todas as famílias da terra serão abençoadas em ti.” (Gn 12,1-3). A obediência de Abraão e da sua família, tornou-se motivo de bençãos para todas as famílias das gerações futuras, pois ele acreditou no Senhor. 

A partir do Livro do Deuteronômio percebemos que a família foi escolhida por Deus para ser o meio e o lugar mais importante para transmitir-se a fé. “Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares... " (Dt 6,2-9). O Salmo 77,2-3 enfatiza esta verdade: "O que ouvimos e aprendemos, através de nossos pais, nada ocultaremos a nossos filhos".  Vemos assim que os lares e as famílias eram centros de adoração e consagração a Deus, um lugar onde se ensinava a viver fé. O pai de família é que tinha a missão de ser o sacerdote da casa, ou seja, aquele que conduzia a sua família no caminho de Deus. Quando os filhos perguntavam sobre os mandamentos e as obras de Deus, o pai estava instruído para responder com palavras e com seu exemplo tudo o que se relacionava à vida divina. 

Sabemos que o Pentecostes é o nascimento da Igreja que vivia nas casas e nas famílias. "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados" (At 2,2). O mesmo Atos dos Apóstolos faz um retrato da Igreja primitiva que se reunia nas casas e famílias: "Partiam o pão (Eucaristia) nas casas  e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração..." (At 2,46-47). Na época dos apóstolos as reuniões da Igreja sempre foram nas casas. Ensinava-se e pregava-se: "E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas." (At 5,42). “Partiam o pão nas casas” comiam juntos em um ambiente familiar alegre (Atos 2,46-47) e se orava: "Pedro... dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos se tinham reunido e faziam oração" (At 12,12).  

Em grego não existe um equivalente exato para a palavra “família”, a palavra correspondente é “oikia” que significa “casa”, ou seja, a “casa” era uma espécie de grande família que mantinha unidos muitos de seus membros. Não era composta somente de membros consanguíneos no sentido atual, mas também dos empregados, escravos, inquilinos e outros dependentes. O Atos dos Apóstolos nos dá um desses exemplos quando diz: "Uma mulher, chamada Lídia... Foi batizada juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai comigo" (At 16,14-15). 

As primeiras e fundamentais lições referentes à igreja como “família de Deus” foram ensinadas na missão que São Paulo realizou nas cidades, quando a fé era estabelecida nas “grandes famílias”, dizia ele: " sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus" (Ef 2,19). Percebemos que a “família”, a “casa” e o “lar” tiveram um papel importante na evangelização e no discipulado na igreja primitiva, ela foi a “igreja doméstica”, foi o agente ativo da expansão do Evangelho a todos os povos para chegar até nós nos dias de hoje. 

O conceito de família que os apóstolos usaram em sua pregação fala da “família de Deus”, “a Igreja de Cristo”, pois os primeiros convertidos foram grupos familiares, como o exemplo do carcereiro que pediu a Paulo para ser batizado. Disse-lhe Paulo: "Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família” (At 16,31).  Falando da liderança da Igreja, São Paulo diz que o homem que não sabe administrar sua própria família não pode nem deve servir a igreja de Deus (cf. 1 Tm 3,5).

A partir de Cristo, não se fala mais de “um Deus” e “um povo”, mas de um Deus Pai e de uma família (Rm 8,29), fala-se da Igreja como família de Deus reinando sobre a terra. Fala-se de Deus como "Pai nosso que está no céu" (Mt 7,1ss). Fala-se de Jesus como o Filho mais velho, e nós, os cristãos, como os filhos mais novos; irmãos de Jesus e irmãos uns dos outros, animados e fortalecidos pelo Espírito Santo. 

Percebemos assim que a família é a nossa casa maior, ao nascermos somos dentre as espécies o ser mais frágil, que depende de cuidados, alimento, amor, proteção e segurança. Nossa fragilidade não é só biológica, mas envolve também o aspecto emocional, intelectual, espiritual, afetivo e social da existência. Na família somos aceitos não por causa de nossas virtudes, mas apesar de nossos fracassos. É na família que temos o nosso caráter forjado, nossa personalidade firmada e nosso temperamento provado. Nela quando caímos, somos levantados. Quando ficamos tristes, somos consolados, quando erramos, somos perdoados. A família é o lugar de aceitação, de perdão e de cura. Nela está a força e o potencial da igreja. O crescimento espiritual da Igreja depende da edificação da família. Ela é a pedra angular da sociedade e da Igreja. 

Portanto, diante do que foi exposto temos a certeza de que Deus projetou e planejou a humanidade para ser uma grande família: a família de Deus. Quando Deus disse a Noé: “Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque te reconheci justo diante dos meus olhos..." (Gn 7,1) ele obedeceu e salvou sua familia e a partir dela Deus criou uma nova humanidade. Quando Abraão foi chamado de Ur para uma terra que ele nem sabia onde era ele obedeceu e Deus lhe disse: "todas as famílias da terra serão benditas em ti” (Gn 12,3). Quando Jacó teve a visão da escada que ligava a terra ao céu, Deus lhe disse: "Tua posteridade será tão numerosa como os grãos de terra; ...e todas as famílias da terra serão abençoadas em ti e em tua descendência" (Gn 28,14). Deus abençoou todas as famílias da terra e fez delas o santuário da vida e do amor. 

O próprio Jesus Cristo para cumprir a sua missão de salvar a humanidade quis nascer em uma família humana. O evangelista Lucas nos diz: "Jesus desceu com eles (Maria e José) a Nazaré e lhes era submisso. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens". A Sagrada Família, Jesus, Maria e José, é a família de Cristo, e é exemplo e modelo para toda família humana de como é abençoada a pessoa que vive a vontade Deus em sua vida e em sua família. Que possamos levar Jesus, Maria e José, a Sagrada Família, para as nossas casas para que sejam abençoadas e santificadas a exemplo daquilo que nos diz Provérbios: "Confia tua vida ao Senhor e teus planos terão bom êxito" (Prv 16,3). Que benção e que alegria pertencer a família de Deus e ter a certeza que essa promessa de benção e de prosperidade é para minha e para sua família! Que a cada dia possamos dizer como Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15c).

Aproveitemos este tempo em que somos chamados a ficar em casa para redescobrir o valor da família, da oração nas casas, da catequese dada pelos pais aos seus filhos e filhas, pois a família é o lugar onde a Igreja nasce, cresce e se fortalece no Senhor. 

Pe. Valdir Luiz Koch

Pároco




 
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